Ed–16–Matéria Especial

por Guilherme Steagall Gertsenchtein

EURÍPEDES BARSANULFO

eurípides

Nascido no dia primeiro de maio de 1880 em Sacramento-MG, foi o terceiro filho dentre treze do casal Hermógenes Ernesto de Araújo (Seu Mogico) e Jerônima Pereira de Almeida (Dona Meca). Espírito de grande destaque dentre aqueles que se alistaram para ajudar no desenvolvimento do espiritismo no Brasil, foi antes de tudo um cristão de dedicação incansável às causas alheias e de coração inundado de convicção pelas suas lutas.

Infância e Juventude

Eurípedes teve infância muito pobre. Desde cedo demonstrava preocupação com as pessoas sofredoras. Em certo momento, a família mudou-se para a Estação do Cipó (Companhia Mogiana), onde seu pai foi gerenciar uma casa comercial. Eurípedes procurava sempre ajudar o pai. Sua doce preocupação era ganhar dinheiro para a mãe, carregando malas e guardando animais. Quando já tinha certa quantia a entregou à mãe em um cofre improvisado: "Guarde para o dia em que a senhora não tiver pão em casa". Estes recursos também bancaram os livros que fundamentaram sua educação formal.

Após três anos, retornou para Sacramento, ingressando no Colégio Miranda. Destacou-se nos estudos e exerce funções de monitor ajudando nas atividades pedagógicas. Em casa, cuidava da educação dos irmãos. Em 1902, Eurípedes e o pai dirigiram-se ao Rio de Janeiro para matriculá-lo na Escola de Medicina da Marinha. De volta a Sacramento, Dona Meca foi acometida por uma crise e Eurípedes compreendeu que a tristeza da mãe devia-se a separação próxima. Quando D. Meca se refez, encontrou a mala do filho desfeita. Eurípedes nunca mais tocaria no assunto.

Estudou homeopatia nos livros de um amigo, Ormênio, sempre buscando a cura para sua mãe, que era acometida por crises. Com recursos próprios, criou pequena farmácia homeopática que atendia os necessitados da periferia da cidade – anos depois esta veio a se chamar Farmácia Espírita Esperança e Caridade e que então prosperou sob a assistência de Bezerra de Menezes. Todas as manhãs visitava os assistidos da farmácia como também trabalhava na casa comercial do pai, auxiliando no balcão e efetuando a escrituração do movimento comercial.

Em 31 de janeiro de 1902, juntamente com seus antigos professores, fundou o Liceu Sacramentano, onde lecionava, quando necessário, todas as matérias do curso. Os mais capacitados na cidade foram chamados para compor a equipe do colégio - havia grande preocupação com a formação dos alunos. Mesmo antes de conhecer o espiritismo, Eurípedes já demonstrava preocupação com os problemas do espírito, valorizava e sustentava equipes de colaboradores.

Era católico fervoroso. Foi coroinha da igreja e co-fundador da Irmandade de São Vicente de Paulo. Em contato com Padre Deodoro, Eurípedes teve acesso a uma Bíblia – em época onde o livro sagrado era restrito – tendo lido sobre as bem-aventuranças. Não conseguiu compreender como Cristo prometera consolações aos sofredores. E a partir dessa dúvida, que ninguém conseguiria dirimir, Eurípedes se tornou insatisfeito.

Conversão ao espiritismo

Em 1903, Mariano da Cunha, seu tio que era espírita, emprestou-lhe o livro Depois da Morte, de Léon Denis. Ficou profundamente impressionado compreendendo que a humanidade sempre recebe o amparo divino. Abalado em suas convicções católicas, ele começou a restringir sua presença na igreja.

Em 1904, assistiu a uma sessão espírita na fazenda Santa Maria, pedindo em pensamento a João Evangelista que ofereça maiores esclarecimentos a respeito das bem-aventuranças. Ouviu este lhe dar então a mais extraordinária dissertação sobre o discurso de Jesus, por intermédio do médium Aristides, que era analfabeto. Dias depois, em Santa Maria, Mariano recebeu mensagens de Bezerra de Menezes e Vicente de Paulo, revelando ser este último seu guia espiritual e comentando a respeito de sua missão.

Então, despertado e convicto, converteu-se ao espiritismo. Procurou o padre, devolveu a bíblia tomada por empréstimo e colocou à disposição do mesmo o cargo de secretário da irmandade. Iniciou a realização de um culto diário que, 107 anos depois, ainda acontece na Chácara Triângulo – sem nunca ter sido interrompido.

Repercutiu estrondosamente tal acontecimento e em poucos dias começou a sofrer as conseqüências de sua atitude incompreendida. Persistiu lecionando e ainda incluiu o ensino do espiritismo no Liceu Sacramentano, o que provocou forte reação. Pais chegaram a oferecer-lhe dinheiro para que desistisse e, ante sua recusa, alunos foram retirados um a um.

Sob impiedosas perseguições, Eurípedes ficou traumatizado e retirou-se para tratamento em Santa Maria, época na qual desabrocharam suas várias faculdades mediúnicas, especialmente a de cura, despertando-o para a vida missionária. Um dos primeiros casos de cura ocorreu com Dona Meca que, restabelecida, tornou-se valiosa assessora em seus trabalhos.

Em 1905, fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade, onde realizava reuniões e prestava auxílio. Foi médium inspirado, vidente, audiente, receitista, psicofônico, psicógrafo, de desdobramento e de bicorporeidade.

O Combate pela Igreja

Eurípedes sofreu ataques por parte do Clero, culminando em processo penal sob a acusação de exercício ilegal da Medicina, em 1917. Todavia, nenhum dos juízes envolvidos quis pronunciá-lo, acabando o caso finalmente prescrito.

Em outra ocasião o Clero passou a desenvolver campanha difamatória contra o espiritismo, brilhantemente defendido por Eurípedes no jornal “Alavanca”. Seus opositores trouxeram de Campinas o Reverendo Padre Feliciano Yague, famoso por suas pregações, convencidos de que infringiriam o golpe derradeiro no espiritismo. Feliciano desafiou Eurípedes para debate em praça pública e debateu insultando a doutrina e os espíritas, mostrando convicções repletas de intolerância e de sectarismo e argumentos inconsistentes. Eurípedes aguardou serenamente, iniciando sua fala com prece belíssima. Apresentou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus ensinamentos e apontou com delicadeza os desvirtuamentos apregoados pelo reverendo, deixando claro que seus argumentos eram enganosos e reforçando a lógica e a força dos ensinos apregoados pelo espiritismo.

Terminou ovacionado e, reconhecendo o estado de alma do eeverendo, Eurípedes abraçou-o fraterna e sinceramente, como sempre o eram seus pensamentos e atitudes.

O Colégio Allan Kardec

Sob a orientação de Maria Santíssima, que assumiu a responsabilidade pela proteção da instituição através de psicografia pelo próprio Eurípedes, mudou o nome do Liceu para Colégio Allan Kardec, que é inaugurado em 01/04/1907, com pedagogia essencialmente espírita.

Dentro desta visão de educação, Eurípedes celebrava a vitória de um currículo que se impunha sobre o preconceito. Como costumava dizer: “poderoso é o sol da verdade”.

O colégio ficou conhecido em todo o Brasil, funcionando ininterruptamente desde sua inauguração, com cerca de 200 alunos, até 18 de outubro de 1918, quando foi obrigado a fechar devido à grande epidemia de gripe espanhola.

Desencarne

Eurípedes prevê sua própria desencarnação durante a mencionada epidemia. Em meio a atendimentos, no dia 24 de outubro de 1918, aparece febril, mas continuou junto aos enfermos. Somente busca repouso por insistência de sua mãe e D. Amália, sua secretária por muitos anos. Esgotado, desencarnou em 01 de novembro de 1918, rodeado de parentes, amigos e discípulos. Seu funeral foi amplamente concorrido pela população da região.

Conclusão

Eurípedes, como especial espírito de luz, sempre buscou a verdade usando sinceridade integral em seus sentimentos e palavras, jamais julgando alguém. Sigamos seu exemplo, em nosso dia-a-dia: fazendo sempre tudo bem feito e pelo próximo, para não termos que voltar à mesma lição.

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