ed. 23 - matéria doutrinária


André Steagall Gertsenchtein

O progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o senso moral eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.” (O Livro dos Espíritos, Questão 780-b).


A Doutrina Espírita ensina que o universo é regido por um conjunto de leis chamadas Leis Divinas ou Naturais. Criadas por Deus e aplicáveis a todo o universo, estas leis são a forma mais simples de entendê-Lo: são belas, justas e amorosas. Através do seu estudo conseguimos compreender mais nosso Criador, uma vez que seus atributos são refletidos na criação.
Allan Kardec propôs aos espíritos dividir as Leis Naturais em dez partes1, uma das quais - a Lei do Progresso - é o tema deste artigo.
Como em outros temas, o Espiritismo também neste caso esclarece dúvidas que são antes de tudo atuais. Ouvimos muitas destas dúvidas de forma cotidiana, e mesmo espíritas muitas vezes não são capazes de respondê-las com clareza.
Por exemplo, há muitos que têm a firme impressão de que passa o tempo e as coisas ficam piores. Sobre o assunto, vejamos o que diz o Livro dos Espíritos:
"Q - A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele 2  está recuando, em vez de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?
R - Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe compreender a necessidade do bem e das reformas.” (L.E., questão 784).
Se compararmos nossos tempos aos de nossos avós, alguns de nós têm a impressão de que as coisas ficaram piores. Talvez elas estejam naquele ponto em que a tecnologia avançou adiante da moralidade, mas esta última dá inequívocos sinais de amadurecimento.
Quem não se lembra do que os vencedores faziam aos vencidos nas guerras de antigamente? Até poucas centenas de anos atrás, ao vencedor tudo era lícito. Alguns podem argumentar que ainda hoje há guerras bárbaras - só que a sociedade com um todo condena fortemente estes fatos, cada vez mais isolados. O sentimento geral mudou, amadureceu.
Outra opinião bastante comum é a de que muitas sociedades dão sinais claros de decadência e, às vezes, até de atraso em relação ao passado. Mais uma vez, o espiritismo explica de forma muito clara o que ocorre.
Kardec considera que os povos (aos quais ele atribui uma “individualidade coletiva”3, à semelhança das pessoas, passam pela infância, idade madura e decrepitude, como mostra a História.  Sendo assim, pergunta ele, esta semelhança “...não nos permite supor que os povos mais adiantados deste século terão seu declínio e o seu fim, como os da Antiguidade?” (L.E., questão 788).
Esclarecem os espíritos que tal mecanismo só se aplica aos povos que “...só vivem materialmente, cuja grandeza se funda na força e na extensão territorial”. Já aqueles “...cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros povos.” Ou seja, nem todos os povos e culturas estão fadados à decadência e ao desaparecimento.
O progresso dos espíritos e dos povos é, enfim, um processo lento e gradual, mas firme. "As idéias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos”4
Além disso, os espíritos que encarnam hoje em determinado povo não são necessariamente os mesmos de outras épocas. Os espíritos iluminados que fizeram do Egito uma grande nação, por exemplo, migraram para  ambientes  mais adequados à sua evolução. O Espírito da Verdade compara esta situação à do indivíduo que, tendo progredido, deixa seu casebre para ocupar uma habitação melhor, ocasião na qual outro menos avançado toma seu lugar, em movimento periódico constante.
Finalmente, há aqueles espíritos (ou povos) refratários ao progresso. Seguindo a mesma lógica, uma vez que lhes tenham sido oferecidas todas as oportunidades de progresso, seu livre-arbítrio é respeitado e eles são afastados do grupo do qual fazem parte, num movimento análogo àquele descrito por Emmanuel em “A Caminho da Luz”, no qual se trata dos povos “Exilados de Capela”. Não se trata de punição: sua permanência junto ao grupo do qual são afastados prejudicaria o progresso deste.
E assim vamos caminhando para uma mudança - também lenta e gradual - de planeta de expiações para planeta de regeneração, cuja característica principal é justamente a boa vontade e espírito de fraternidade dos espíritos que nele habitam. Podemos reforçar, assim, nosso sentimento de esperança num futuro sempre melhor.

1- Livro dos Espíritos, questão 648: Leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, justiça, amor e caridade, estas três últimas na mesma parte.

2 - Kardec se refere ao homem (que é quem estaria recuando).
3- Ver questão 788 do Livro dos Espíritos
4 - Livro dos Espíritos, questão 800

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