ed. 23 - matéria de capa


Glaucia Savin


vida: nossa eterna companheira

Estamos iniciando um novo ano e, com ele, repetimos as mesmas promessas de todos os anos passados, acreditando que “desta vez, vai”.
Somos essencialmente otimistas e acreditamos na vida. Isto faz parte da nossa natureza: acreditar. Acreditamos que o pé de jabuticaba que plantamos vai vingar; temos certeza de que vamos emagrecer uns quilinhos, mesmo sem irmos à academia; ou que o nosso time, este ano, vai ser campeão, mesmo sem saber quem vai ser escalado ou quem será o novo técnico.
E nos perguntamos: por que acreditamos na vida? O que nos faz ser tão otimistas?
Está intrínseco em nós, desde que fomos criados como espíritos, o instinto de preservação. Faz parte da nossa natureza sobreviver e, para isto, precisamos ter alguma dose de otimismo.
Quando vemos a saga da humanidade, desde o surgimento do primeiro homem na Terra, há longínquos 3,5 milhões de anos, temos nos ocupado em sobreviver. É uma lei natural; a lei de conservação, de que Kardec nos fala no Livro dos Espíritos.
O instinto de preservação está gravado em cada um de nós porque, como espíritos, sabemos que somos eternos e aprendemos que a vida tem uma finalidade essencial.
Neste ponto, vale entender que a consciência sobre a nossa própria eternidade muda a nossa relação com a vida.  No momento em que compreendemos que a vida não se resume ao período de uma existência, mas é a somatória de todos os ciclos de nascimento e desencarne que experimentamos ao longo dos tempos, nossa relação com as coisas que nos cercam e nossos valores mudam completamente. Ao entendermos, portanto, que a vida não se resume a uma encarnação, nossa perspectiva se dilata e passamos, necessariamente, a contemplar a eternidade como parâmetro.
A compreensão da infinitude da vida nos remete à pergunta necessária sobre o porquê fomos criados e o que estamos fazendo aqui.
Com Kardec aprendemos logo no começo do Livro dos Espíritos, que fomos criados simples, ignorantes e destinados à perfeição. Essa é, portanto, a nossa meta, que nos remete ao ensinamento de Jesus: sede perfeitos.
Já sabemos, de longa data, que não se chega à perfeição em um salto.
Como espíritas, entendemos que a vida física é um dos nossos estágios de desenvolvimento moral. É este, portanto, o objetivo da nossa existência física, razão pela qual devemos aproveitar cada oportunidade para priorizar o nosso crescimento espiritual.
Isto, porém, não significa, esquecer as necessidades materiais. O nosso corpo, como instrumento necessário ao desenvolvimento do nosso espírito, também deve merecer a nossa atenção. Viemos para esta encarnação com o envoltório físico necessário ao desenvolvimento de nossas atividades e compromissos. É por isto que precisamos cuidar da nossa saúde, de nossa alimentação, evitando toda a sorte de excessos e circunstâncias que coloquem em risco a nossa harmonia orgânica e que encurtem, voluntariamente, a nossa existência. Temos que cuidar do nosso corpo, não por exigências estéticas, mas por uma questão de natureza moral: temos um compromisso a cumprir e precisamos preservar nossos recursos físicos para isto. Daí, não podermos desperdiçar, nem nos arriscar frivolamente.
A nossa vida é um bem de elevado valor.
Aprendemos, também, que pedimos, sim, para nascer. E em algumas vezes, tivemos até que enfrentar fila. Nascemos na família que mais poderia nos proporcionar oportunidades de adiantamento moral e viemos com todos os instrumentos necessários ao desenvolvimento das potencialidades e tarefas com as quais nos comprometemos. Quando entendemos Kardec, temos por dever parar de reclamar com a vida e com os outros. Aliás, como bem afirma Joanna De Angelis, “somos herdeiros de nós mesmos” e disto não podemos fugir.
E, por falar em responsabilidades quanto a nós mesmos, vemos que não há como fugir à vida. Como criaturas eternas, estamos fadados a viver e, mais, a viver para sempre. A morte não existe.
Engana-se, portanto, quem pensa que pode dar fim à vida; a vida não tem fim. É esta, aliás, a decepção daqueles espíritos que em um ato de desespero e desamor acabam optando pelo suicídio. Ao acordarem no outro plano percebem que ainda estão vivos e que acabaram, por falta de conhecimento em relação à espiritualidade, agravando os próprios débitos. O mesmo engano cometem aqueles que defendem a pena de morte. Não podemos condenar alguém à morte, se a morte não existe. Na verdade, ao advogar a pena de morte, estaremos privando alguém da oportunidade de reflexão sobre os próprios enganos. Quando tiramos a “vida” de alguém, na verdade, suprimimos o tempo dessa pessoa. Não se tira o tempo dos outros, mesmo que, segundo o nosso entendimento, essa pessoa esteja “sofrendo”. Como espíritas entendemos que aquilo que vulgarmente se denomina “sofrimento” é produto das escolhas de cada um. De outra parte, como por exemplo, no caso da eutanásia, a ciência médica tem demonstrado que o cérebro pode reagir a estímulos, mesmo nos estágios anteriormente diagnosticados como “coma”. Mais uma vez, o respeito ao tempo dos outros se impõe.
O tempo é nosso aliado. Para quem vive na perspectiva da eternidade, o tempo é uma invenção sensacional e trabalha sempre em nosso favor. Temos todo o tempo do mundo.
Porém, já aprendemos que é muito chato só ficar esperando o tempo passar, e quando nos damos conta de que temos um compromisso muito sério conosco mesmos, não tem graça nenhuma perder tempo por aí.
Como já mencionamos, temos o compromisso de nos desenvolvermos moralmente para que, um dia, alcancemos a condição de espíritos perfeitos.
Tornemos nossa vida eternas manhãs, renascendo minuto a minuto para as novas oportunidades que nos apresentam; que a cada instante, cada um de nós possa levantar os olhos aos céus e dizer: - Pai, estamos prontos.

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