Ed.20–Matéria de capa

André Steagall Gertsenchtein

A Reencarnação

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“A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.”

(Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Questão 171, parte)

Vivemos durante muito tempo buscando resposta para perguntas como estas: Por que há ricos e pobres? Por que há sucessos e fracassos? Por que nem sempre os que são ricos e têm sucesso são os bons?

As religiões tradicionais nos ensinaram que quem decidia estes assuntos era Deus. “Porque Deus assim quis” - era a resposta que ouvíamos. E ai de quem duvidasse da sabedoria Dele.

Também nos contavam que vivíamos uma única vez, e que as consequências desta única experiência eram eternas. Uma vida de erros levava à eternidade no inferno. Uma vida de acertos levava à eternidade - de ócio - no céu.

À medida que o tempo passava, a humanidade se tornava mais racional. Aprendíamos sobre os fenômenos naturais, desenvolvíamos a ciência e a filosofia, mas a religião continuava a mesma.

As explicações tradicionais não eram mais satisfatórias, e muitos de nós passamos a ver Deus como sinônimo de irracionalidade. Ou ele era invenção dos religiosos ou não era lá muito sábio (e muito menos justo).

As pessoas começaram a achar que não dava para raciocinar e ter fé ao mesmo tempo. E foram se afastando de Deus, fazendo da religião algo meramente formal.

O surgimento do Espiritismo trouxe, pela primeira vez em muito tempo, de forma organizada, conceitos realmente fundamentais:

1) Somos espíritos e sobrevivemos ao nosso corpo físico, que é provisório. Somos imortais.

2) Fomos todos criados simples e ignorantes.

3) Como espíritos nascemos muitas vezes. Cada experiência de uma vida, chamada encarnação, permite aprendizado diferente. Com o tempo, todos aprenderemos o suficiente para atingirmos a perfeição.

Estes conceitos deram sentido às perguntas mencionadas antes. O que víamos, numa única encarnação na Terra, era uma “foto” de um filme bem mais longo - o filme da história de cada espírito. Rico hoje, pobre ontem. Doente hoje, saudável amanhã.

Ajudaram a explicar as aparentes desigualdades - inexplicáveis sem eles - e as injustiças também aparentes entre pessoas de merecimento nem sempre igual aos privilégios recebidos.

Trouxeram, mais que tudo, esperança no futuro.

Com explicações que podiam ser entendidas, era possível novamente compatibilizar Deus e a razão.

Kardec dizia que “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade”. Com esta frase, ele inaugurava a época da “fé raciocinada”: podíamos acreditar novamente, sem que para isto tivéssemos que afrontar a razão.

Restavam ainda algumas dúvidas: porque não nos lembramos das encarnações anteriores? Não seria esta uma prova de que estas não existem?

De fato não temos lembrança de fatos, datas, nomes, locais de nossas encarnações anteriores. Mas trazemos, para cada nova encarnação, o conteúdo essencial alcançado até então: sabemos exatamente quem somos, do que gostamos, nossas antipatias, nossas vocações, habilidades.

De que outra forma explicar vocações natas? Ou diferenças de personalidade entre gêmeos idênticos? Ou ainda simpatias e antipatias gratuitas? Ou mesmo atração inexplicável por determinadas ideias e culturas?

São nossas tendências de passado, que se manifestam todos os dias, ainda que de forma inconsciente.

Quanto às memórias de passado que ficaram esquecidas, apesar de registradas em nosso espírito (e acessíveis, por exemplo, pelo correto uso de hipnose), elas não são esquecidas por acaso. Só com o esquecimento conseguimos forças para o recondicionamento.

Quantos de nós não sentem às vezes vontade de dizer “Como gostaria de voltar no tempo e começar tudo de novo, sem o peso do que passou...?”. Esta é a oportunidade que a reencarnação e o esquecimento nos dão.

Pensando bem, é justamente a memória uma das maiores provas da reencarnação. Não a memória dos fatos, mas a memória de quem realmente somos.

Sabemos bem o que somos, ainda que não possamos nos lembrar do porque somos assim.

Este ensinamento, a reencarnação, mudou a vida das pessoas: explica o que parecia injusto, permite entendermos um pouco melhor a Lei Divina, e, principalmente, traz esperança. Esperança que é a grande motivadora de mudanças de comportamento em encarnados e desencarnados.

Quando alguém entende que não está condenado pelo seu passado, porque pode recomeçar - através de novas encarnações - e também que está destinado à perfeição, ganha enorme motivação para começar imediatamente sua transformação.

É neste momento que o esclarecimento ajuda na transformação.

E esta é a grande missão da Doutrina Espírita: esclarecer, dar esperanças, mostrar que a Lei Divina é educativa, e não punitiva.

Ou seja, nos aproximar de novo de Deus.

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