Ed. 19–Assunto em família

por Maria Inez Batista Araujo

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?...

Esse trechinho do “Poema Enjoadinho” de Vinícius de Moraes nos dá uma ideia da dificuldade que muitos de nós enfrentamos com a educação de nossos filhos. Esses seres pequeninos e integralmente dependentes de nossos cuidados ao nascer recebem de nós um amor profundo e incondicional. Recebem também nosso desejo de protegê-los e ampará-los, cercando-os de cuidados, com o firme propósito de ajudá-los no desenvolvimento das faculdades e potencialidades que trazem em si mesmos.

Imersos nesta responsabilidade e imbuídos destas determinações, esquecemo-nos de que eles são espíritos imortais – com bagagens próprias muitas vezes maiores que as nossas – confiados a nós por algum tempo e que estão aqui para continuar a percorrer, como nós, o caminho do aprendizado rumo à perfeição espiritual.

E o que fazemos, então? O amor desmedido com o qual muitas vezes os amamos afasta o bom senso e o entendimento e acabamos por fazer tudo por eles. Tudo! Para não vê-los sofrendo, enfrentamos seus desafios, suas aflições, resolvemos seus conflitos, sempre achando que estamos fazendo o melhor por eles. Não os deixamos exercitar a responsabilidade com suas atitudes. E assim vamos atravessando a infância, adolescência e o início da fase adulta, tentando aplainar o terreno, retirando todas as pedras do caminho, decidindo por eles, pois os amamos com toda nossa capacidade de entrega.

E o que estamos formando com isso? No emocional dessas crianças ficará registrada sua incapacidade: “não sou capaz” de resolver, “não sou capaz” de decidir, “não sou capaz” de escolher. O excesso de proteção deixa marcas significativas na autoimagem da criança, sua incapacidade de tentar resolver seus conflitos e todas as situações que exigem dela reflexão e escolhas. Com este caminho, nos esquecemos de espelhar-nos no exemplo maior de pai que temos que é Deus. Ele, como nosso Pai, não nos atropela, nem exerce pressão insuportável. Proporciona com todo o seu amor os recursos e situações necessárias ao nosso aprendizado e consequente progresso.

No esforço que fazemos de não deixar nossos filhos sofrerem, pois toda escolha ou decisão envolve certo grau de sofrimento pela alternativa deixada de lado, não oferecemos condições de crescerem superando seus desafios com discernimento e responsabilidade e não os deixamos adquirirem os subsídios que sustentarão suas escolhas dentro de suas metas evolutivas. Este controle gera na relação pais-filhos um desgaste grande, onde mais tarde serão cobradas atitudes e responsabilidades que não foram estimuladas e exercitadas desde cedo, levando muitos de nós a questionar a felicidade de tê-los.

Portanto nossa meta ao conduzir um filho pelas estradas da vida é buscar o equilíbrio entre respeito e descontração, entre liberdade e disciplina, entre amor e autoridade. E terminando com Vinícius...

...Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

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