Lucia Andrade
Espiritismo e política
Espiritismo e política
Meus queridos, o período eleitoral se
aproxima e este artigo é um convite aberto para todos nós espíritas para que
possamos fazer uma reflexão corajosa sobre o nosso atual estágio de cidadania. A
doutrina espírita conscientiza a criatura humana, levando-a a tornar-se um "homem
de bem" no sentido global?
Haverá alguma relação entre espiritismo
e política? Sobre o aspecto filosófico, o espiritismo tem a ver e muito com a
política, já que esta deve ser a arte de administrar a sociedade de forma justa.
Conseqüentemente, o espírita não pode declinar da sua cidadania e deve vivenciá-la
de forma consciente e responsável.
O Brasil sempre foi alvo de muitas
esperanças. Fala-se em país do futuro, em berço da nova civilização e, nos meios
espíritas, em "coração do mundo e pátria do evangelho." O grande problema é que
os brasileiros nunca demonstraram grande empenho para alcançar concretamente
esses títulos.
Somos um país que não se conscientizou
de que depende da sociedade colaborar na resolução de muitos problemas dos quais
o Estado não consegue dar conta. O Brasil só vai poder dizer-se pátria do
evangelho quando der os primeiros passos na construção de uma sociedade
realmente democrática, justa e fraterna. Quando, enfim, os brasileiros olharem
para a sociedade e perceberem que fazem parte dela.
O espírita tem em suas mãos instrumentos
poderosos de participação (e de transformação) da sociedade: os centros
espíritas, as instituições específicas, os órgãos de comunicação. Sabemos que
Kardec recomendou aos centros que deixassem de lado as questões políticas. Essa
afirmação significa que não devemos trazer para o centro espírita as campanhas
partidárias, pois o lugar para o seu exercício é nos locais respectivos.
A partir do momento em que se fala em
reforma moral, em mudança de visão do mundo, em desapego dos bens materiais e
prática da caridade, fala-se sobre política.
"Em que consiste a missão dos espíritos
encarnados? Em instruir os homens, em lhes auxiliar
o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais". (Questão
n º 573 de
O Livro dos Espíritos).
O espiritismo trabalha com a educação.
Esta é a base da própria doutrina, pois, para praticá-la, temos de nos educar. E
a educação tem um conteúdo extremamente político, pois muda nossa forma de ver o
mundo e de agir nele.
O espiritismo valoriza o trabalho como
uma ação social e espiritual, pois o homem dele participa com seu corpo e
espírito, não importando se a atividade é manual ou intelectual.
A maior preocupação deste final de
milênio tem um nome: desemprego. Num mundo globalizado, cada vez mais dependente
da economia e das variações financeiras, o problema do desemprego está se
tornando muito grave.
O desemprego não é um problema que será
resolvido por uma "lei divina". Os homens é que têm de resolvê-lo. É bom que os
espíritas reservem um pouco da sua preocupação para os debates que se travam no
mundo a esse respeito. Precisamos
perceber que quando se trata desta questão, fala-se da evolução do homem.
Em sua participação política na
sociedade, o espírita não poderá perder de vista o aspecto ético ou moral da
questão. A reprodução do ser humano está ligada à tutela do casamento, cujo
surgimento representa um dos primeiros progressos da sociedade humana, pois
estabelece a solidariedade fraterna.
O espírita, de forma individual, e o
movimento espírita, de maneira coletiva, precisam estar atentos à defesa dos
fundamentos morais que preservem a nobre e elevada instituição do casamento.
Assim poderá se colocar contra a onda avassalante de sensualidade que varre os
meios de comunicação e que mantêm a mulher apenas como um objeto sexual, sob a
aparência de libertação.
"O uso dos bens da Terra é um direito de
todos os homens? Esse direito é conseqüente da
necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de
cumpri-lo". (Questão nº 711 de
O Livro dos Espíritos).
No entanto, nas organizações sociais
injustas a maioria dos homens é impedida do uso dos bens da terra por aqueles
que não só usam tais bens como, ainda, os dilapidam no gasto supérfluo. Não
respeitam o limite das necessidades que a natureza traçou.
A natureza não pode ser responsável
pelos defeitos da organização social, nem pelos efeitos da ambição e do egoísmo.
O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens. Todo ser humano tem
direito ao bem-estar. Logo, está errada e é injusta a sociedade em que apenas
alguns gozam do bem-estar.
Todas as vezes que o espírita constatar
a destruição da natureza em função do lucro que os sistemas econômicos exigem,
deverá associar-se contra tal destruição.
“E quem governa seja como quem serve".
Jesus
E como diz J. Herculano Pires (O
Reino. São Paulo: Editora Edicel, p.137), "o chamado de uma nova ordem
social está clamando no coração do mundo. E o mundo não pode deixar de atendê-lo,
porque é um imperativo do progresso terreno, uma lei maior do que as leis
transitórias dos homens é a expressão da própria vontade de Deus"
Foi a esta conclusão que chegou Martin
Luther King (Os Grandes Líderes – Nova
Cultural), ao afirmar que "não há nada mais trágico neste mundo do que saber o
que é certo e não fazê-lo. Não posso ficar no meio de todas essas maldades sem
tomar uma atitude."
Tomemos uma atitude também: façamos como
aquele beija-flor que no meio do incêndio da floresta, buscava água com seu
biquinho para apagá-la e alguém lhe perguntou: como pretende apagar o incêndio
com tão pouco? Ele respondeu: estou fazendo a minha parte.
Artigo elaborado a partir de
transcrições do livro O Espiritismo e a
Política para a Nova Sociedade – Aylton Paiva Lins. Casa dos Espíritas.
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