Ed. 01 – Artigo – Mediunidade

por José Rodrigues Passarinho


Nunca ninguém voltou para contar como é que é?
Essa é uma frase que não faz mais sentido.

O contato com o plano espiritual, especialmente em um país tão espírita quanto o Brasil (2,3 milhões de espíritas de acordo com o Censo 2000), acontece diariamente, constantemente, em trabalhos mediúnicos, nas mais de dez mil instituições espíritas no Brasil (de acordo com dados da Federação Espírita Brasileira – FEB).
“Mas eu não vi, se visse acreditaria”, poderia alegar alguém mais cético. A história mostra que não é assim. Arthur Conan Doyle, celebrizado pela sua criação mais famosa, o detetive Sherlock Homes, foi um grande pesquisador da mediunidade. Em seu livro “A História do Espiritismo” (Editora Pensamento), o autor relata diversas situações em que intelectuais e cientistas viram, tocaram e sentiram os espíritos... E não acreditaram. Nos primórdios da revelação espírita, aconteciam fenômenos mediúnicos de materialização onde espíritos se tornavam visíveis e... Palpáveis, cumprimentando com apertos de mãos os participantes das reuniões, entre outros eventos impressionantes onde espíritos se materializavam, cantavam, tocavam instrumentos e muito outros fenômenos.
Essa mediunidade mais “espetacular” teve sua finalidade. Chamar a atenção. Aos espíritos foi permitido mostrarem-se presentes e acessíveis, de forma irrefutável.
Foi um desses fenômenos físicos muito corriqueiros nos anos 1850, as chamadas “mesas girantes”, que chamou a atenção de Allan Kardec. Era uma brincadeira dos salões parisienses. Um grupo se reunia em volta de uma pequena mesa e ela começava a flutuar ou a estalar, respondendo perguntas dos participantes.
A princípio, só pela curiosidade, Kardec não se interessou pelo fato. Mas quando soube que a “mesa girante” respondia perguntas, resolveu pesquisar mais a fundo o que ocorria. Afinal, efeitos inteligentes haveriam de ter causas também inteligentes. Por meio da mediunidade, não sua, mas de duas meninas, na época, descobriu uma doutrina inteira. Uma revolução na forma de pensar e agir da humanidade. Trouxe aos encarnados a doutrina dos espíritos. Mas fez isso de forma criteriosa. Logo descobriu que espírito nada mais é do que ser humano desencarnado. Quantos tipos de espíritos existem? A mesma quantidade e qualidade de tipos de humanos. Ou seja, há o brincalhão, o mal intencionado, o pseudo-sábio e há também o espírito sério e colaborativo. O fato de apenas ser um espírito não garantia credibilidade à sua mensagem. Utilizou seu bom senso e critérios universais de comunicações ocorridas em outros lugares, para selecionar e classificar suas inúmeras comunicações recebidas. Respostas às suas perguntas diretas aos espíritos. Pesquisa que originou “O Livro dos Espíritos”, pedra fundamental de nossa doutrina.
E hoje ainda é assim. A comunicação não basta vir “do lado de lá” para ser considerada séria. Nem tão pouco é o grau de visibilidade ou mesmo de materialização que confere autoridade a quem está se comunicando.
A comunicação espiritual, que ocorre por meio de uma pessoa encarnada, ou seja, por um médium, é um fenômeno natural, uma força normal da natureza. Qualquer espírito pode ter acesso ao fenômeno. Portanto, não é o porte do fenômeno, uma visão aparentemente maravilhosa, uma materialização impressionante, nada disso é garantia de qualidade da comunicação. Na teoria, qualquer espírito poderia provocar algo assim, dentro das condições técnicas necessárias e por meio de um médium capacitado para tal. É a própria comunicação que diz se ela é confiável. Seu conteúdo, sua forma, seu objetivo.
Hoje em dia, esses fenômenos físicos ainda ocorrem, mas são mais raros. Já se cumpriu a missão de chamar a atenção. O momento, agora, é de trabalho, de um relacionamento mais consistente e produtivo com o chamado “lado de lá”. Até porque, como já dissemos, o fenômeno em si não proporcionou a certeza e, sim, reforçou a incredulidade.


Uma porta para aliviar a dor

Mas o que é a mediunidade? Podemos dizer que mediunidade é a capacidade humana de intermediar a comunicação entre o mundo espiritual e o material, onde estamos momentaneamente encarnados. O universo espiritual, etéreo, sutil, necessita das energias e fluidos do médium, do seu princípio vital, para manifestar-se mais diretamente com os encarnados.
Não é preciso ter um complexo físico especial para ser médium. Todos têm capacidade para tal. No entanto, nem todos têm a necessidade, a programação de vida para exercer sua potencial mediunidade.
Nos tempos de Conan Doyle, pouco se sabia sobre o fenômeno. Os eventos eram tratados como curiosidade e espetáculo. Não se sabia das consequências, especialmente ao médium, que era muitas vezes submetido a sessões intermináveis, gerando grandes desgastes físicos.
A pesquisa de Allan Kardec trouxe grande iluminação a esse fenômeno que é tão antigo quanto a encarnação. Sim, porque encarnamos e desencarnamos desde muitos milênios e sempre tivemos algum tipo de relação com o plano espiritual. A história é repleta de “deuses”, previsões, profecias, visões espetaculares... Poucas bem compreendidas e bem tratadas. A maioria considerada “coisa do demônio”, por pura ignorância do fenômeno.
O espiritismo trouxe explicação e possibilitou mais ordem e melhor aproveitamento dessa maravilhosa porta de acesso ao nosso mundo real, o mundo espiritual. Porta para ser utilizada para aliviar a dor de quem ficou, por meio de uma comunicação de alento de quem partiu, como tanto aconteceu por intermédio de nosso querido Chico Xavier. Porta a ser utilizada para esclarecer e motivar os encarnados, por meio de comunicações e ensinamentos de viva voz e ou ainda por livros, como fez também o Chico e como ainda o faz nosso companheiro Divaldo e tantos outros médiuns importantes que tanto abrilhantam nossa literatura espírita.
Porta a ser utilizada para entrar em contato com companheiros desencarnados ainda infelizes, necessitados, que conseguem nos ouvir mais facilmente, pela proximidade vibratória, o que ocorre diariamente em nossos centros, nos chamados trabalhos de doutrinação.
Porta que, quando possível, quando permitido, nos trás a cura de males físicos considerados irremediáveis. Porta que, para ser bem proveitosa, precisa ser estudada. Afinal, a mediunidade não é uma característica humana que se tem e pronto, é só usar. Não, não é assim. É preciso estudar, participar de um curso estruturado em um centro espírita. Para aprender, dominar, controlar, sentir-se bem e bem utilizar essa verdadeira ferramenta de trabalho e progresso tanto próprio quanto de encarnados e desencarnados.


O  Livro dos Médiuns
Lançado em continuidade ao “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns” é a base de todo ensinamento e prática da mediunidade, de acordo com a doutrina espírita. O livro trata inteiramente da mediunidade, suas formas, como deve ser desenvolvida, as dificuldades, os tipos, enfim, tudo sobre a interação entre espíritos encarnados e desencarnados.


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