ed.22 - Matéria Especial

Sandra Dourado

Perdas e luto como oportunidade de renascer

 "A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe. Allán Bozarth Campbell".
Perdas são sentidas como privação e desamparo. O luto é o profundo sentimento de tristeza pela perda, por vezes parece rasgar a alma.  A perda pode ser pelo que tínhamos: bens, emprego (demissão ou aposentadoria), casamento, morte de um ente querido, filho que sai de casa, saúde, mudança de cidade.  Ou pelo que esperávamos ter.
Elaborar o luto é aceitar a realidade como ela é. É aprender a viver com a ausência. Quando algo ou alguém se vai é como se parte de nós tivesse partido junto. Mas permanecemos aqui inteiros, não partimos nem morremos.
O ser humano não é treinado para perder, desapegar, mas para ter e acumular o que torna a experiência do luto muito assustadora.
O luto considerado “normal“ tem começo, meio e fim. O processo considerado “anormal” tem duas reações opostas: quando a pessoa não sai do luto (quem passa anos arrumando o quarto de quem partiu, como se este fosse voltar) ou quando a pessoa nem sequer entrou no luto (parece indiferente, não chora, não reage). Com esta última reação, o luto fica adiado, a dor fica guardada em “algum lugar” e um dia vem à tona.  É o reconhecimento da dor que nos direciona para a busca da aceitação.
Algumas vezes, amigos ou familiares bem intencionados, mas acometidos pelo sentimento de impotência, por não saber lidar com a dor do outro, encorajam prematuramente que a pessoa deixe o luto e evitam tocar no assunto. Deste modo o enlutado pode se sentir isolado, fraco e inadequado, sendo que ele não está pedindo solução do problema, mas acolhimento e conforto.
À medida que se torna possível falar da dor, surge a compreensão e a transformação. A pessoa vai ganhando força. O luto é a construção de uma nova etapa na vida. Na natureza, nada se perde, tudo se transforma. Sempre objetivando o processo educativo do espírito.
Não é a perda que nos faz evoluir, mas o que aprendemos com ela: “os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar sua inteligência, mostrar sua paciência e sua resignação à vontade da Providência, e até mesmo multiplicam neles os sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se não é dominado pelo egoísmo”. (resposta da Q.740 – O Livro dos Espíritos)

Fonte:
FREUD, S. Luto e Melancolia. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund   Freud, vol. XIV, Imago, Rio de Janeiro, 1914-1916.
Kardec, A. O livro dos espíritos. Tradução Herculano Pires. 67ª ed. São Paulo, 2010
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 2ª ed.  São Paulo, Martins Fontes, 1985
SANTOS, A. L. C. O processo do luto: a aceitação da morte no sentimento de perda, um novo caminho de vida junto ao consolo da religiosidade. São Luís, 2010

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