Ed.20–Psicologia e Espiritismo

Sueli Inês Arruda Issa

A loucura sob novo prisma

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Em um breve relato podemos viajar um pouco no tempo e pontuarmos a evolução do conceito de loucura de forma sintética.

Na Antiguidade

Vamos ter três formas de ver a loucura:

1. Obra da intervenção dos deuses que interferiam para que seus desejos não fossem contrastados pelos desejos dos Homens.

2. Produto de conflitos passionais, embora com interferência dos deuses.

3. Efeito de disfunções somáticas, causadas por experiências afetivas.

Na Era Medieval

A loucura foi vista como o resultado da intervenção diabólica e de outros desequilíbrios do Homem.

Coincidindo com o inicio do Cristianismo, a imagem de Satanás como opositor era muito clara e povoava todas as explicações.

Século 17

A loucura passa a ser encarada como fenômeno natural e da alçada médica. Mas ainda o conceito de possessão é visto como causa.

Século 18

Classificada como desarranjo das faculdades intelectuais. A intervenção demoníaca passa a ser mais remota.

Século 19

A loucura é vista num primeiro momento como lesão das faculdades mentais de origem orgânica ou moral, mas tem início a ideia de que existia loucura sem que se detectasse qualquer lesão cerebral.

Em 1897, o médico Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, ainda encarnado escreveu A loucura sob novo prisma, obra vista hoje como um clássico.

Ele considerava que as doenças mentais (como eram conhecidas na época) podiam ter a sua origem a partir de duas situações:

A. Distúrbios físicos, isto é, doenças de ordem orgânica.

B. Doenças de ordem espiritual, motivadas por processos de obsessão.

Para o século 19, isto foi um avanço enorme, pois a ciência ainda não tinha se envolvido com temas desta espécie, embora existisse a Escola Neurológica de Charcot e a de Salpétrière, em Paris, que tratavam da histeria, assim como também estavam no início os trabalhos de Freud e de Breuller sobre o hipnotismo (universo da neuroanatomia).

Somente em 1993 foram referendadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) as doenças mentais, que a partir de 1º de janeiro de 1994, passaram a ser qualificadas como transtornos mentais pelo CID-10 (Código Internacional de Doenças – 10° revisão). De acordo com esta nova visão, os transtornos mentais teriam sua origem em fatores vários, entre eles o genético (a ciência não se apercebeu, na sua totalidade, de quais seriam estas manifestações de ordem genética) – estamos ainda desenvolvendo o Projeto Genoma Humano.

Vemos desta forma que o espiritismo antecipou-se muito. Encontramos nele o estudo da medicina.

Dr. Bezerra de Menezes, através de suas pesquisas e estudos, alertava a classe médica daquela época para três pontos importantes:

• O pensamento é pura função da alma ou espírito e, portanto, suas perturbações, em tese, independem de lesão cerebral, embora possam elas concorrer para o caso, pela razão de ser o cérebro instrumento das manifestações, dos produtos da faculdade pensante [...]

• Que a loucura, perfeitamente caracterizada, pode-se dar – e dá-se mesmo –, em larga escala, sem a mínima lesão cerebral, o que prova o cérebro não é órgão do pensamento [...]

• Podendo ser, também, resultante da ação fluídica de espíritos inimigos sobre a alma ou espírito encarnado no corpo.

No livro A loucura sob um novo prisma, após apresentar a cosmogonia espírita, começa por definir o papel do cérebro nas manifestações da mente. Ele vem colocar a questão da obsessão como causa direta para grande parte desse tormento, apresentando ainda a terapêutica espiritual, à luz do espiritismo, para a cura tanto do obsedado quanto para a do obsessor.

Na visão espirita, o cérebro é instrumento da mente. Emmanuel define como “espelho da alma”.

Falando um pouco sobre obsessão, podemos classificá-la em:

• Obsessão simples: trata-se de um pedido de socorro, da imposição e da falta de conhecimento da vida espiritual. Os espíritos querem se comunicar, e muitas vezes geram inconvenientes para aqueles que são médiuns e não sabem como lidar com a situação por desconhecerem os ensinamentos espíritas.

• Fascinação: o obsedado já não goza do livre arbítrio integral. Só obedece às imposições do espírito obsessor, partindo de sugestões simples até a interferência na criação da razão e da imaginação do obsedado.

• Possessão: o domínio do obsessor é completo, e o subjugado não resiste a esse poder oculto.

André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos comenta que muitos dos nossos irmãos desencarnados ainda presos a sentimentos de ódio e ira cercam suas vítimas encarnadas, formando perturbações que podemos classificar como “infecções fluídicas” e que determinam o colapso cerebral com arrasadora loucura. Hospedeiro e parasita alimentam-se da mesma sintonia espiritual, pelas ondas que transmitem os pensamentos e com a intensidade dos mesmos sentimentos, processando o mecanismo dos parasitas espirituais.

A obsessão é um penoso mecanismo de ajuste harmônico consciencial daqueles que não se dão a chance de evoluir sob a abençoada oportunidade do amor fraternal, caindo nas malhas edificadoras do ódio, do ressentimento, da necessidade de cobrança e da paixão exagerada.

A terapêutica espírita é um convite à

elevação espiritual. Dr. Bezerra de Menezes propõe como terapia espírita:

I. Fluidoterapia

II. Atividades de benemerência

III. Desobsessão

IV. Moralização do paciente – renovar-se pela prática do bem

Estamos todos no mesmo caminho. O caminho do autoconhecimento e da transformação das emoções mais primárias em sentimentos mais elevados.

Cuidemos de nossos pensamentos e dos sentimentos que alimentamos em nós.

Sigamos sempre para frente e para o alto.

Sugestão para leitura:

- O Evangelho do Futuro

- A Casa Assombrada

- Lázaro, o leproso

- A pérola negra

- História de um sonho

- Casamento e mortalha

- Os carneiros de Panúrgio

- Uma carta de Bezerra de Menezes

- Espiritismo: estudos filosóficos, 3 volumes

Obras consultadas:

1. A Loucura sob novo Prisma - Bezerra de Menezes; 2. A Obsessão e suas Máscaras - Marlene R. S. Nobre; 3. Loucura e Obsessão - Manoel Philomeno de Miranda; 4. Nos Bastidores da Obsessão - Divaldo Franco; 5. Obsessão/Desobsessão - Suely Caldas Schubert; 6. Novos rumos à Medicina .Vols I e II - Dr. Inácio Ferreira

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