Ed–13–Matéria Doutrinária

por Glaucia Savin

O céu e o inferno

ceu-e-inferno

“Não é no céu que encontramos Deus, mas em Deus
que encontramos o céu”.

A crença na condenação da alma a penas ou gozos eternos favoreceu o imaginário e a criação de mitos
sobre o inferno e o céu. O inferno, como um lugar de privações e dores infinitas e, de outro lado,
o céu, como um espaço de contemplação eterna, onde reinaria a bondade e a paz. Para tranquilizar
os corações e mentes das pessoas medianas, acabou-se por criar o purgatório, como uma estação
transitória, apta a abrigar espíritos não totalmente comprometidos com o mal, mas ainda sem a
estatutura moral que lhes conferisse a fruição da paz celestial.

Para aqueles que acreditam na existência de Deus e da justiça divina, nada poderia ser mais desolador do que a crença nas penas eternas. Se os pais humanos, ainda imperfeitos, são capazes de perdoar, como Deus condenaria um de seus filhos a penas e sofrimentos eternos? Como aqueles considerados “bons” poderiam, de forma insensível e desprovida de qualquer misericórdia, usufruir por toda a eternidade de paz, vivendo em contemplação, sem qualquer preocupação com os irmãos menos elevados, condenados eternamente
ao suplício do fogo? Afinal, que anjos sem compaixão seriam esses?


Toda a idéia de penas e gozos eternos contraria a lógica da providência que impõe a evolução
de todos os seres, desde o mineral até o espírito, criado simples e ignorante, mas irremediavelmente
destinado à perfeição.


Kardec, de forma corajosa, enfrentou mais uma vez, os dogmas vigentes à sua época, ao produzir uma obra que entitulou O Céu e o Inferno: A Justiça Divina Segundo o Espiritismo. A obra compõe-se de duas partes: Na primeira, sempre de forma
crítica, Kardec analisa vários temas relacionados à morte, dentre eles, as causas do temor à morte;
porque o espírita não deve temê-la; o céu e o inferno cristãos, imitados do universo pagão; a doutrina das penas eternas; os anjos segundo
o catolicismo e de acordo com o espiritismo. Foi examinada, ainda, a origem da crença nos demônios e da proibição de evocação dos mortos.

Na segunda, por meio de diálogos entre Kardec e diversos espíritos, o autor procura demonstrar a
situação da alma, durante e após a morte física, proporcionando ao leitor amplas condições para que
possa compreender a ação da lei de causa e efeito, em perfeito equilíbrio com as leis divinas.


Constam desta parte, narrações de espíritos felizes, infelizes, espíritos em condições medianas, sofredores, suicidas, criminosos e espíritos
endurecidos.


O céu e o inferno coloca ao alcance de todos, os conhecimentos do mecanismo pelo qual se processa
a justiça divina, em concordância com a lei de ação e reação e o princípio evangélico: “A cada um
segundo suas obras”.


A grande boa notícia trazida por Kardec é a de que não há penas e juízos eternos aos quais o espírito
estaria condenado. Aprendemos ainda, que ninguém, nem mesmo Deus, irá nos julgar, mas a nossa consciência, exige de nós a reparação
de nossas faltas, a correção de nossos enganos e nos compele ao aprendizado contínuo. O que
encontraremos em nosso caminho, após a morte ou em outras vidas, é sempre o fruto do nosso patrimônio moral, da nossa razão e da nossa
responsabilidade.

A consciência é uma conquista do espírito que tem aumentado o seu livre-arbítrio e suas capacidades,
na medida da sua evolução.


De outra parte, quanto maior o grau de liberdade, mais responsabilidades tem o espírito. Portanto, podemos dizer que quanto maior a consciência
e a responsabilidade que assumimos por nossas ações, maior serão nossas possibilidades e o nosso grau de liberdade.


A liberdade é fruto de nosso amadurecimento espiritual.

Somos, portanto, o fruto de nossas escolhas ou, como diria com propriedade Joanna de Angelis,
somos herdeiros de nós mesmos.

A reencarnação, como oportunidade de testarmos os nossos conhecimentos e desafiarmos as nossas conquistas, se justifica como possibilidade renovada para o exercício do nosso livre-arbítrio e da nossa capacidade de julgamento não mais em relação ao outro, mas em relação a nós mesmos.

O desencarne, portanto, ao nos libertar das limitações impostas por nosso corpo físico, nos deixa, como espíritos, frente a frente com nossas
conquistas e nossos desenganos.

O “céu e o inferno” serão, portanto, produtos da nossa construção mental, da nossa sintonia e do
nosso maior ou menor apego às ilusões da matéria.
Após a leitura de Kardec podemos ter a certeza de que, após o desencarne, a vida futura é uma
realidade e o céu ou o inferno são resultados de nossas escolhas durante a vida e estão, portanto,
dentro de nós.

índice

Nenhum comentário:

Postar um comentário